Instituição em Taguatinga ajuda na recuperação de dependentes químicos

03/06/2012 17:25

 

O dia começa cedo, por volta de 6 horas da manhã já está no primeiro de vários ônibus que pegará no decorrer do dia. A recepção nem sempre é calorosa, mas, Itamar da Silva já está acostumado com a rotina. Paranaense veio de Foz do Iguaçu há nove meses, hoje vende produtos em veículos do transporte público de Brasília.

O mundo das drogas é bem conhecido pelo recém-chegado, afinal, 12 anos de sua vida foram dedicados ao vicio, agora com 33 anos busca ajuda no Instituto Manassés, instituição sem fins lucrativos que visa a reabilitação de pessoas que enfrentam esse tipo de problema.

Itamar é somente um dos vários beneficiados pelo projeto que conta com unidades em 18 estados do Brasil. No Distrito Federal existe uma filial em Taguatinga que atende 25 dependentes químicos e recebe por dia cerca de 10 pessoas em busca de tratamento.

O local que fica na QNA, não possui nenhuma identificação. Para encontra-lo o interessado deve conseguir um dos folhetos que vem junto com canetas, chaveiros, lanternas. Vendidos nos ônibus, lá constará uma descriminação de todas as unidades do projeto. É com a vendagem desses kits, confeccionados pelos próprios internos, que a unidade consegue pagar as despesas, que chegam a 15 mil reais por mês.

Segundo Leandro Roberto, obreiro do instituto e em tratamento há nove meses, a ideia de criar um local para ajudar jovens com problemas com drogas partiu do pastor Manassés que inicialmente os recebia na garagem de sua própria casa em Salvados/BA.

Para participar dos projetos de reabilitação é necessário que dependente químico procure uma das unidades e faça a entrevista, é cobrada somente uma taxa de matrícula no valor de 450 reais. Depois de matriculado será encaminhado para outra cidade, pois os internos nunca permanecem no mesmo meio que vivia antes, o objetivo é afastá-los do convívio habitual com familiares ou amigos que possam de alguma maneira interferir no tratamento.

Como a instituição não recebe ajuda governamental, os passageiros do transporte público são os principais colaboradores do projeto. Porém nem sempre são solidários, muitos não incentivam, criticam e chegam até a agredir verbalmente, as pessoas que fazem esse tipo de trabalho. Segundo Itamar da Silva, 33 anos, os motoristas são os primeiros a não apoiá-los, muitas vezes não aceitam que eles entrem no ônibus para realizar o trabalho, quando isso não acontece, os passageiros é que não contribuem, nem fazem questão de segurar o kit como uma forma de incentivo. “É um trabalho muito difícil, já fui elogiado, mas, também muito criticado, cheguei a ouvir: vai trabalhar seu vagabundo, drogado”. Relata Itamar.

Essa atividade vem chamando a atenção e dividindo opiniões dos usuários de transporte coletivo da capital federal. Para Eisenhower Rodrigues, 55 anos, morador de Taguatinga, esse método é errado: “quem garante que esse dinheiro será empregado na recuperação, se não recebem nenhuma ajuda profissional, existem outros meios para trabalhar, porque isso não recupera ninguém”, declara Rodrigues. Em contra mão a essa opinião, Silvio Gil, 44 anos morador do Recanto das Emas, afirma que esse é um trabalho muito bonito, e que se todos fizessem diminuiria o número de drogados na rua.

Segundo Leandro Roberto, 30 anos, que veio do Rio de Janeiro, e ainda está em tratamento, mas que hoje é obreiro e responsável pelo primeiro contato com os viciados dentro da casa, conclui que esse é um dos momentos mais críticos e decisivos. Para ingressarem na casa é preciso estar acompanhado por uma pessoa, seja amigo ou familiar, que não seja usuário de drogas. Passam por uma entrevista para avaliar se o usuário manifesta vontade própria em abandonar as drogas, em seguida são pedidos alguns documentos para o encaminhamento ao Instituto Manasses de outro estado. Para a internação é cobrado uma taxa única de matricula no valor de 450 reais.

O tratamento tem duas fases, a primeira é considerada a mais difícil, o processo de desintoxicação, é quando ocorrem às crises de abstinência. Através dos cultos, das orações e das reuniões de compartilhamento que esses homens superam as primeiras dificuldades, “agente não usa nenhum tipo de medicamento, porque para droga não existe remédio”, explica Leandro Roberto. Longe do convívio social, eles ficam 30 dias realizando atividades internas, montando os kits, cuidando da limpeza da casa, e fazendo suas refeições que são responsabilidades deles próprios.

A segunda fase é para reintegrar esses indivíduos a sociedade, são enviados as ruas, sempre acompanhados por um colega mais antigo, para vender os kits informativos de ônibus em ônibus. “Esse é o principal meio de divulgação da instituição”, declara Leandro. Dessa forma são preparados para a realidade que vão enfrentar na rua: a luta para não voltar para o vício, e os possíveis preconceitos que possam enfrentar após a recuperação. Assim são estimulados a não desistirem do tratamento que tem como objetivo recuperar a dignidade e elevar a autoestima.

Para Gilvan Silva, 34 anos, que veio de Curitiba PR e está na casa há 30 dias, a ressocialização é a parte mais complicada, ele já foi para rua três vezes, mas a timidez e a dificuldade de se comunicar com o público, trazem uma grande limitação para a execução desse trabalho. Ele afirma que o serviço não é voluntário como os obreiros dizem, “somos forçados a ir para rua, precisamos bater metas, vender 150 kit por dia, é feita certa pressão que traz desestimulo e vontade de abandonar a casa”.

Assim como o Instituto Manassés, existem milhares de associações que dependem de doações para se manterem. Essas associações recebem um incentivo fiscal do governo, e ficam isentos de alguns impostos.

 

 

Por Simone Sampaio e Flávia Simone

SERVIÇO:

 

INSTITUTO MANASSÉS

Endereço: QNA 21, Casa 01 - Praça do DI

Telefone:

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